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MARCO AURELIO DE SOUZA
( BRASIL – PARANÁ )
Nasceu em Rio Negro, Paraná, em 1989, e vive em Ponta Grossa.
Doutor em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marco Aurélio é graduado em História, especialista em História, Arte e Cultura e mestre em Linguagem, Identidade e Subjetividade pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), além de graduado em Letras/Português e especialista em Metodologia do Ensino de História e Geografia pela UNINTER. Atualmente, é professor da rede pública de ensino do Estado do Paraná. Possui experiência como professor de História nos níveis Fundamental II e Médio, na rede pública e privada de Educação, além de Ciências Humanas na modalidade EJA. No campo acadêmico, suas áreas de interesse e atuação são: Teoria da História, Teoria e História Literária e História da Literatura no Paraná.
Biografia extraída de https://www.escavador.com/sobre/8060467/marco-aurelio-de-souza
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CONTRASTE DA AMÉRICA: antologia de poesia brasileira. Organizador Djami Sezostre. São Paulo, SP: Editora Laranja Original, 2022. 189 p. ISBN 978-65-86042-40-5.
Ex. biibl. Antonio Miranda
NA BEIRA DO RIO NEGRO
Dois homens pescam na beira do rio Negro
— seus anzóis iscados com pedras de crack
O primeiro deles fisga um peixe desdentado
Com tétrico olhar já não respira: agoniza
Na segunda vara se debate um furtivo
(Nem mesmo dez anzóis lhe são suficientes)
O terceiro é uma fêmea vazando raiva pelas escamas
— os pescadores do lugar a chamam de piranha —
Então no ar uma varas se debate ao fisgar
Um pássaro — homens e peixes surpreendidos —
Que morde a pedra e não se deixa segurar
Continua livre entre as estrelas ele dança
Depois repousa sobre os galhos de um pinheiro
Repetindo seu balé todas as noites
Até que padre, o lojista e o prefeito
Solicitam à polícia da cidade
Que lhe quebrem as asas e o devolvam ao rio
Pois todos sabem que aos peixes
É vedado o direito de voar
NOS OLHOS DE MINHA MÃE
Uma pomba selvagem
Com seu arrulho inaudível
Rasga feroz o peito opresso —
Seu bico em meu mamilo.
“Não somos nós a escolher
Os lugares onde ficamos,
Mas eles que nos escolhem”.
E por que distorcida fizeste a minha visão
Que só se encontra sozinha e as lágrimas
Mirando o terreno baldio das almas
Dos que sofrem, e tanto, e sempre,
Que assim o seu corpo traduz essa dor
Derruindo lento ao primeiro encontro
De um fragmento ligeiro da luz?
São os lugares que nos chamam
À partilha da eternidade, mas me confunde
Tua vontade, Senhor, pois entre os viciados
E somente ali, oculto numa ânsia asquerosa e pueril,
Fois que vislumbrei Teu semblante jorrando entre
angústias
Que me escapavam pelos dedos feito um cardume de
peixes
Diminutos — ou serei eu quem se recusa
compreender?
Era Jesus, sei, era teu filho quem chamava, mas tive
medo
E este medo era maior que a Palavra
E a cada instante o meu medo aumentava
E decidindo pelo medo eu me afastava.
Rastejando entre vermes foi que vi,
De corpo encolhido,
Crescer imensa a Tua presença
Repetindo meu nome
Antes da morte e da fuga atrapalhada,
E esta imagem me acompanha um dia inteiro —
Desde cedo e até à hora de dormir.
“São os lugares que nos escolhem”
Sim, é isto o que sinto, mas também isto o que me
aplaca,
Já que me sobram sempre os anjos, os decadentes,
E sempre neles é que encontro a Tua fronte
E posso ainda implorar por um aceno
Ou a coragem de mirá-lo em silêncio
E Te amando Te querer e Te pedir.
Da chama de Deus me assusta
Como um incêndio brotando
Nos olhos de minha mãe].
*
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Página publicada em julho de 2023
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